A “invasão” do Brasil durante a Copa foi algo sensacional, e teve uma característica muito particular. Veja só. São levas de argentinos, uruguaios, colombianos, chilenos, costa-riquenhos, mexicanos, equatorianos, isso sem falar dos portugueses e espanhóis.
Toda essa multidão veio ao Brasil torcer e fazer festa e se comunica numa linguagem que nós, aqui da fronteira, conhecemos muito bem: o portunhol. Ele não é reconhecido como uma língua oficial, mas existe de fato. Acho até que nunca foi tão utilizado quanto hoje.
O Brasil faz fronteira com diversos países de língua espanhola, e nada mais natural do que nos aproximarmos utilizando essa ferramenta. Nos apropriamos do vocabulário dos vizinhos. Em contrapartida, os vizinhos também conhecem muito bem o português. Faz parte do instinto de sobrevivência, da nossa adaptação a um ambiente hostil.
Assim, criamos uma língua de fronteiras, o nosso bravo portunhol. Se você encontrar um chileno e não conseguir entendê-lo, não hesite. Utilize o portunhol e verá que a comunicação acontece.
Essa nossa linguagem espontânea não tem regras, não tem gramática, e tem pouca autocensura. O importante é a comunicação. Aliás, com a invasão real dos latinos em metade do território norte-americano, podemos dizer que é fácil viajar por toda a América com o mínimo de ajuda da língua inglesa. A única exceção é o Canadá, que ainda resiste. Mas logo também será invadido, sem dúvida. Chegará o dia em que vamos consagrar o portunhol como um idioma misto, porém de extrema utilidade. Arriba e adelante!
***
Foi no mínimo curiosa a matéria feita por uma jornalista porto-alegrense, que conversou com visitantes de diversos países, especialmente europeus. Ela queria saber quais os hábitos dos brasileiros que despertam a admiração deles e que poderiam ser “adotados” pelos povos de outros continentes. Pois veja que coisa surpreendente. Vou citar alguns mais legais.
Abraços e contatos físicos entre as pesssoas. De início, eles estranham. Mas depois descobrem como é bom.
Atendimento em lojas. Ao contrário do que imaginamos, os atendentes brasileiros dão um olé no que pode ser encontrado em lojas européias, por exemplo. Os entrevistados elogiaram muito a cortesia, o sorriso, a gentileza.
O jeitinho brasileiro, sob certa ótica, é reprovável. Mas o fato é que europeus enlouquecem quando algo dá errado. O brasileiro, ao contrário, busca a solução e encontra caminhos alternativos. Sempre há um jeitinho. E o objetivo é alcançado.
Compartilhar bebidas chama a atenção de todos. Um copo de caipirinha, ou uma cuia de chimarrão, são sinônimos de comparti-lhamento social que os europeus desconhecem. Comprar uma cerveja e servir vários copos, por exemplo, é uma novidade para eles. Quando sentam num bar, cada um pede a sua cerveja, veja só.
Os hábitos de higiene também são motivo de elogios. Tomar banho todos os dias e escovar os dentes após as refeições não são prática corrente. Aliás, é clássica e verdadeira a história de que os franceses inventaram os perfumes justamente por causa da péssima higiene íntima.
Outro hábito que surpreendeu os visitantes é a carona. Eles não sabem o que é isso. Levar o amigo até a sua residência, ou combinar uma visita a determinado local compartilhando uma automóvel é algo inusitado para eles.
Parece até que, com a Copa, eles estão aprendendo muito. E nós estamos aprendendo a valorizar aquilo que sempre tivemos, e que faz de nós um povo especial. Copa também serve para isso...