A deriva do 2,4-D não respeita alambrados

Publicado em 13/12/2019 09h32 - Atualizado há 4 anos - de leitura
Jornal Noroeste / Jornal Noroeste

Quando chega dezembro, respira-se o término de um ano e início de outro. É quando, motivado por luzes que se acendem, balanços são feitos. Em 2019, com a mudança de governo central, um novo rumo político-administrativo se iniciou. Um exemplo: a reforma da previdência. Contestada pela esquerda, foi aprovada. Só que medida semelhante o presidente Macron, da França, o novo queridinho da esquerda, com pequenas variantes segue - na reforma da sua previdência do berço da “igualdade, ...” - os passos de Bolsonaro com o silêncio de quem o combateu. É a constatação de que não existe milagre quando, para cada real arrecadado, gastam-se dois. Mas a isso passo ao largo para falar de uma pequena decisão aqui no RS, significativa, no entanto, pelo seu efeito multiplicador: a suspensão, pela Secretaria da Agricultura, até 31/12, do uso do 2,4-D. Mesmo temporária, é um fruto da reação à agressão à natureza. É pouco? É, mas toda grande caminhada começa com o 1º passo. E no caso, nasceu da reação de diversas entidades, entre elas o MP, que tem legitimidade para a defesa do interesse público.

A eficiência do 2,4-D como substituto da enxada e do aradinho puxado a cavalos, é incontroversa. Para a fabricante, além de eficiente o herbicida é seguro e eventual problema da deriva residiria na sua incorreta aplicação. Ora, isso é falácia, posto que tal segurança depende de fatores alheios à vontade humana: o vento, a chuva, os insetos, o calor - que, como é óbvio, não respeitam os marcos ou cercas que dividem as propriedades rurais. Quer dizer, na teoria, o controle é possível; na prática, não, porquanto associado a esse produto há uma palavrinha atrapalhando: DERIVA, efeito nocivo do herbicida que se espalha por vários meios. Daí a contaminação à fruticultura, a parreirais e oliveiras em propriedades que não usam o 2,4-D.

O ácido diclorofenoxiacético (2,4-D) é antigo. Foi produzido (guerra química e biológica) na 2ª Guerra Mundial. Depois foi empregado na guerra do Vietnã. A propósito, no Vietnã se tornou o composto agente laranja, desfolhante das florestas onde os guerrilheiros se protegiam. Porém, o resultado catastrófico não se limitou ao extermínio das florestas, mas a todos os seres vivos do local e do seu entorno. Cessadas as duas guerras, o produto passou a ser “vendido” como a salvação das lavouras. O problema é sua ação (deriva) incontrolável. Das 76 amostras coletadas em 52 áreas rurais do RS, em lavouras onde nunca foi usado o produto, todas apresentaram a presença do 2,4-D.

Segundo a OMS, o agrotóxico é pouco tóxico (Classe II); no Brasil, é considerado extremamente tóxico (Classe I). Durma com tanto barulho! O Brasil tem um grande potencial para crescer. Precisa crescer. Mas a qualquer custo? Para o ex-ministro Paulinelli, criador da Embrapa, o controle de pragas da agricultura é possível com defensivos naturais. Aliás, no RS se expande o uso de organismos vivos no combate a pragas e doenças (ZH, Campo e Lavoura, 8/12/19, p. 4) pelo controle biológico, prática que consiste na infiltração de inimigos naturais na lavouras infestadas, já saindo das pequenas lavouras para as grandes plantações de soja, seguindo plano de voo traçado por um drone. O biocontrole não controla todas as pragas e doenças, mas não agride a natureza. Já a deriva do 2,4-D agride e não conhece marcos ou alambrados.

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