A legalização dos cassinos no Brasil voltou à baila. O ministério do Turismo abraçou a causa dos defensores da abertura dessas casas, que já foram legais. Com efeito, nos anos 50, no RJ, as roletas giravam. Eram pontos de encontros de personalidades do mundo - encontros sociais, políticos e financeiros que misturavam lazer, aposta e show. Nos salões, desfilavam homens de terno e mulheres de longo. Carmen Miranda, cantora e atriz portuguesa radicada no Brasil, era atração no palco da Urca. Com isso, donos de hotéis e restaurantes ganhavam, e o governo, arrecadava. Os brasileiros continuam jogando, na legalidade e na clandestinidade, aqui ou na Argentina, Uruguai etc, quando não, em Las Vegas. Nos EUA, são dezenas de hotéis-cassinos. Só o Bellagio oferece shows, salas de pôquer, jogos de mesa, mais de 2.400 máquinas caça-níqueis e uma central de corridas e esportes que transmite eventos de todo o mundo. Tem 3.933 quartos e oito restaurantes, no qual vaga só com agendamento prévio. No Brasil, o funcionamento legal de cassinos terminou em 1946 quando o pres. Dutra, por influência de sua mulher Carmela, católica fervorosa, decretou seu fim. Na época, eram mais de 70 casas de apostas. Hoje, um elemento novo se agregou ao mundo dos jogos: a aposta virtual com incontáveis aficionados. Logo, legalizar é afastar a hipocrisia, arrecadar impostos e promover o turismo. Na América do Sul, a proibição restringe-se a Brasil e Equador.

Agora, o Congresso começa a impulsionar a legalização dos cassinos. Para o MPF, o empecilho é a falta de fiscalização. A meu ver, problema que se resolve com a criação de um sistema operacional para a atividade com controle em tempo real, pela RF.

A CNBB e as igrejas evangélicas são contra. Para o catolicismo, não se trata de ofensa a princípios justos, mas pelo temor que os cassinos destruam “valores primordiais da vida e seus direitos inalienáveis ao priorizar coisas secundárias”. No entanto, nos EUA, estudo do teólogo Beth Haile, Ph.D em Teologia Moral (portal US Catholic), mostra que o jogo é uma das principais receitas das suas igrejas, e não se tem notícia de que seus fiéis, beneficiários de dólares de origem pecaminosa, tenham passaporte para o inferno.

Argumentos a favor e contra a legalização dos cassinos, como em tudo, existem. No veto ao projeto, há um falso moralismo: “façam o que eu falo, mas não o que eu faço”. Quem nunca fez uma ‘fezinha’? Inclusive igrejas e paróquias fazem bingos, também proibidos. Para o presidente da Frente Parlamentar do Marco Regulatório dos Jogos, dep. Bacelar, a abertura de cassinos tem potencial para arrecadar R$ 60 bilhões bruto por ano, sendo R$ 18 bilhões em tributos, além de mais ou menos R$ 10 bilhões com suas concessões; gerar em torno de 400 mil novos empregos; novos serviços de bares, restaurantes e hotéis; comércio e indústria de novos produtos no entorno dessas casas.

No Congresso, o tema deve enfrentar resistência da bancada evangélica, contrária a todos os jogos de azar. Ora, vamos combinar: a rejeição à liberação dos cassinos carrega uma dose de hipocrisia, haja vista que os brasileiros convivem com as jogatinas oficial (mega-sena, loto etc) e proibida (250 mil pontos de jogo do bicho); com a internet aberta recebendo R$ 3 bilhões ao ano em apostas on-line; com cerca de 300 mil pessoas que todos os anos deixam o país para jogar na Argentina, Portugal, Las Vegas..