O valor do abraço

Publicado em 15/02/2021 11h41 - Atualizado há 3 anos - de leitura

Em muitos países o abraço não existe, ou é algo raro. Por lá, abraço mesmo, abraço forte e cheio de emoção, só em velório, e desde que a relação de afetividade com o morto seja muito estreita. Não é qualquer parente choroso que merece um abraço. Uma frieza de dar dó!

Pois o brasileiro, bem ao contrário, cultiva o abraço cotidianamente. É uma espécie de cumprimento, muitas vezes seguido de beijos nas faces. E ainda tem uns tapinhas nas costas e na cintura. Coisa linda! Não importa quem seja o abraçado. Pode ser um amigo, um familiar, ou apenas alguém a quem acabamos de ser apresentados. Dê-lhe abraço, beijos e tapinhas...

Dizem que quem inventou este abraço tão próximo foram os italianos, mais precisamente os mafiosos da Itália. A encenação toda era para verificar se a outra pessoa não tinha alguma arma no corpo. Questão de segurança pessoal. Fingiam amizade e já revistavam o recém-chegado...

Ninguém sabe ao certo quem inventou o abraço, nem quando ele surgiu. Consta que em tempos idos, mesmo aqui no Brasil, esse costume não existia. Foi aparecendo aos poucos e hoje o usamos para romper barreiras físicas e psicológicas entre as pessoas, pois nós temos uma “aura” de proteção, uma barreira entre os corpos que só o abraço consegue romper. Abraçar é dizer: “Seja bem-vindo, eu me desprotejo para você”.

Ah, serve também para saber se o desodorante não está vencido...

***

Pois acho que a pandemia está nos devolvendo o sentido e o valor do abraço. Neste momento de tantos cuidados, velhos amigos se cumprimentam com um leve e rápido tocar de dedos, com a mão fechada. A praga nos tornou precavidos. Todos sabem que isto é cautela, mas também é respeito. Não sabemos quem pode ser a próxima vítima do vírus. Por ora, portanto, vamos levando essa rotina de cumprimentos quase distantes, muito formais, muito frios.

Por isso estamos vivendo uma epidemia de saudade do abraço. Estamos parecidos com aqueles europeus chatos. Um cumprimento frio. No máximo um sorriso oculto pela máscara. Coisa mais triste!

Pois acho que esta saudade do abraço ainda vai nos maltratar por muito tempo. No ritmo da vacinação no Brasil, estaremos todos vacinados lá por 2025, e olhe lá!  O bom é que mantemos a esperança de que, em algum momento no futuro, voltaremos a distribuir abraços bem cinchados (como diria o gaúcho).

***

Aliás, tenho visto entrevistas de psiquiatras preocupados com os efeitos deste longo período de isolamento. As relações afetivas estão contidas, represadas, e isto causa mudanças na percepção e no bem-estar psíquico. Está havendo uma onda de depressão e melancolia, que tem, entre suas consequências, o aumento da agressividade.

Para eles, estamos vivendo um momento de provação. Nossa capacidade de superação está sendo testada. Estamos sendo testados quanto a nossa humanidade, nossas convicções como sociedade, nossa paciência e esperança, etc. Para alguns destes psiquiatras, esses afetos represados virão à tona, quando a epidemia acabar,  de uma forma incontida, quase incontrolável. Teremos uma avalanche de abraços, de visitas aos amigos, de festas familiares, de baladas animadas e também de sexo, o qual, dizem, também anda reprimido.

Enfim, voltando aos dizeres do gaúcho, viveremos um tempo em que estaremos assanhados como solteirona em festa de casamento e faceiros como mosca em tampa de xarope... Prepare-se!

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