Semana de Páscoa
Publicado em 03/04/2021 09h48 - Atualizado há 3 anos - de leitura
Dias atrás um amigo comentava, muito sério, que não acreditava nos números da Covid porque os hospitais estariam recebendo, para cada morte registrada, um valor em torno de R$ 30 mil. Eu já tinha ouvido esta história meses atrás. Pelo cálculo dele, só o Hospital Dom Bosco já teria um “crédito” superior a R$ 3 milhões. Pois bem. O tal “pagamento” nunca existiu, como bem sabemos.
Mas não é este o ponto. O ponto, na verdade, são dois. Primeiro, como é que alguém inventa uma história dessas? Segundo, como existem pessoas que acreditam nisso?
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Interessante questão de língua portuguesa. Temos duas palavras que já se incorporaram à nossa linguagem, “Coronavírus” e “covid”. A primeira designa o vírus propriamente dito, portanto é masculina. A segunda é a referência à doença, uma abreviatura da expressão inglesa “Corona Virus Disease” (doença do Corona Vírus). Portanto, covid é uma palavra feminina. Coronavírus é masculina.
Em outras palavras, sofrendo e aprendendo.
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Narrativas bíblicas dizem que foi na quarta-feira (que hoje chamamos “quarta-feira santa”), que Judas Iscariotes se ofereceu para entregar Jesus aos caras que pretendiam matá-lo, em troca de dinheiro.
— Eu topo fazer uma delação premiada — teria dito Judas.
Um dos romanos comentou:
— Depois da Lava Jato, delação premiada está desmoralizada. Vamos combinar outra coisa.
— Eu posso dar um beijo em Jesus, e assim vocês o identificam e prendem.
— Está bem. Mas é o fim da picada, mesmo! O poderoso império romano dependendo de um beijo de Judas... Nosso império está no fim!...
Judas então decidiu falar do mais importante.
— E eu, quanto levo nisso? Um ministério, quem sabe?
— Você já quer demais! Vamos te dar 30 dinheiros, e fim de papo!
— Topo!
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Pois uma das coisas fascinantes da Bíblia é que ela é objeto de controvérsias até nossos dias. Tudo nela é relativo e objeto de polêmicas. Por isso mesmo, nada deve ser levado “ao pé da letra”. O lado ruim é que cada um interpreta à sua maneira.
Pois a história de Judas é trágica. Ele se arrepende do gesto, devolve o dinheiro e acaba se enforcando. O dinheiro é usado para a construção de um cemitério. E o tal “beijo de Judas” se incorporou ao nosso imaginário como sendo qualquer gesto feito por alguém que deseja trair ou causar o mal a outra pessoa.
As histórias bíblicas são fascinantes por isto mesmo. Verdadeiras ou não, elas refletem dramas verdadeiramente humanos. O amor, a traição, a ganância, a morte, a esperança, e tantos outros dramas e sentimentos que marcam nossa vida. Os acontecimentos da semana que antecede a morte de Jesus são um prato cheio para interpretação da conduta humana, das angústias e impasses que marcam a vida. Porque não somos santos, mas também não somos maus. Somos humanos. Esses dramas é que dão grandeza à nossa existência. Deles podemos extrair reflexões e análises e, também, aprender a viver com dignidade. Pois morrer aprendendo também é uma lição bíblica.