Aos trancos e barrancos

Publicado em 05/09/2022 14h05 - Atualizado há uma semana - de leitura

Comemorar os 200 anos da independência é necessário e
indispensável. Mas, convenhamos, 200 anos é quase nada
em termos históricos. Por isso ainda somos uma nação
jovem. Estamos em construção. Ora avançamos, ora retrocedemos
(basta ver o retrocesso que estamos vivendo hoje).
Pois é assim que vamos construindo um país. Aos trancos e
barrancos...
===
Quando lembramos da independência, surge sempre a figura de
D. Pedro como um herói. Afinal, ele proclamou a independência e foi
o imperador. Mas sua figura humana e pública foi algo lamentável.
Boêmio, inseguro, violento com as mulheres, mimado e sempre
duvidando das suas próprias capacidades. A história mostra que
ele foi, de fato, “empurrado” pelas circunstâncias e acabou virando
o símbolo do Brasil independente. Ficou a imagem.
Deixando de lado essa simbologia, o fato é que a história tem
sido muito injusta com o cara que realmente decidiu as coisas em
favor da nossa independência: José Bonifácio de Andrada e Silva.
===
Quando vemos pinturas da época, Bonifácio aparece numa
pose sóbria e elegante. Fica difícil imaginar quem ele realmente
foi. Pois vejamos.
Nasceu no Brasil e aos 20 anos foi viver na Europa. Formou-se
em Direito, Filosofia e Matemática. Residiu em diversos países
e acompanhou, em Paris, a Revolução Francesa, que mudou o
mundo da época. Quando retornou ao Brasil, já tinha 56 anos de
idade e achava que vinha para viver uma confortável aposentadoria.
Pois enganou-se redondamente. Ele estava entrando no
olho do furacão!
Justamente por ser o brasileiro mais bem-preparado intelectualmente
do seu tempo, virou conselheiro de D. Pedro, que tinha
idade para ser seu filho. Logo Bonifácio revelou sua personalidade
forte e tornou-se a figura central no jogo de conflitos em que
mergulhava a colônia. Foi o grande negociador entre grupos de
interesse ideológicos divergentes, e, sem ele, talvez o Brasil tivesse
se fragmentado em mais de uma nação.
Em diversas ocasiões, diante de conflitos entre os interesses da
Coroa Portuguesa e dos brasileiros, a intervenção de Bonifácio
impediu o derramamento de sangue. Em 1823, após a dissolução
da primeira Constituinte brasileira, ele foi preso e deportado, pois já
não concordava com as posições políticas de D. Pedro. Seis anos
mais tarde, voltou ao Brasil e D. Pedro mudou-se para Portugal.
Logo Bonifácio seria preso novamente, injustamente acusado de
tentar recriar a monarquia. Depois de muitas peripécias (e duas
prisões) recolheu-se na ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro, onde
morreu em 6 de abril de 1838, aos 75 anos.
===
Também desperta curiosidade o seu temperamento. Ao contrário
do que se imagina, Bonifácio era divertido, gostava de dançar e
contar piadas e teve inúmeras amantes. Escreveu estudos científicos
em diversas áreas que o tornaram conhecido na Europa. Um
cientista norte-americano batizou uma rocha (mineral descoberto
na época) com o nome de “andradita”, em sua homenagem.
Embora rico, nunca teve escravos, e foi o primeiro grande nome
a combater a escravidão. Sua influência nos grupos políticos envolvia,
além do abolicionismo, a defesa de profundas reformas no
Brasil, como a reforma agrária e educação para todos (coisas que
não conseguimos até hoje). Bonifácio talvez tenha sido o primeiro
notável da República a perceber os graves problemas do Brasil.
O título “Patriarca da Independência” foi uma homenagem póstuma.
Mas não revela o quanto sua vida foi, de fato, interessante
e agitada. Ele era o cara!

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