Para me submeter a uma cirurgia de joelho, por três semanas fui substituído neste espaço pelo proficiente escritor Clairto Martin. Obrigado, amigo! A bem da verdade, por ignorância minha sobre a recuperação em implante de prótese, programei afastar-me por uma semana. No entanto, assim que operado senti a dimensão da limitação física a que estava submetido. De uma semana de ostracismo passei para duas e de duas para três. Agora, já substituindo o desconforto da dor pelo conforto de voltar a me sentir útil, volto a escrever. Começo pelo Musicanto, sobre o qual, em artigos diferentes, inconformado com a inoperância de quem o assumiu (Fenasoja), escrevi:

 “ Em 31/12/2020, sob o título Chamamé, patrimônio da humanidade, destaquei o reconhecimento da Unesco (órgão da ONU) ao Chamamé, ritmo de Corrientes/Argentina, como Patrimônio Imaterial da Humanidade. Entre outras passagens, escrevi: “Ao tempo em que aplaudo a nova láurea do chamamé, sonho com o Musicanto ... também agraciado pela Unesco.” Em 16/7/2021, sob o título Assim o Musicanto não vai a lugar algum, lembrei o galardão deferido ao Chamamé, e a sugestão a que o Musicanto montasse um projeto idêntico ao de Corrientes junto à Unesco. Informei ainda que a Califórnia (Uruguaiana) havia entrado no páreo, habilitando-se junto à ONU, enquanto o Musicanto silenciava. Em julho/2021, o Conselho de Cultura (Fernando Keiber) convocou reunião para discutir o Musicanto. Convidado, fui. No entanto, a pauta foi pouco além de apresentar o presidente Alexandre Maronez, que disse que o Musicanto só será realizado em 2023. Ante fatos consumados, sugeri que o Musicanto formasse um Conselho composto pelos seus ex-presidentes. Nem resposta. Em 6/8/2021, sob o título A Coxilha canta, o Musicanto emudece, exaltei a realização de mais uma Coxilha (Cruz Alta) e lamentei a omissão para com o Musicanto, concluindo: “Prefeito Mantei, Vossa Senhoria que vem administrando com competência o Município, nos festejos dos 90 anos de emancipação político-administra­tiva bem que poderia dar um presente à cultura sul-americana: anunciar a realização anual do Musicanto como programa de governo ... Por que não, prefeito, já para 2022, sob sua presidência, seguindo Osmar Terra quando prefeito?” Outra fonte: em 2009, quando Santa Rosa renovava o contrato com a Corsan, como presidente da Oscip/Musicanto sugeri - e o prefeito Orlando aceitou - contemplar o Musicanto com cláusula extra. Daí nasceu o Inciso XXIX da cláusula 22ª, até então não previsto, obrigando a Corsan a destinar R$ 50.000,00/ano, corrigidos pelo IGPM ...”

 Com votos de que os registros acima sejam coisas do passado, sábado 15, no Restaurante Ponto 10, participei de reunião do Musicanto 40 anos. Gostei do que vi, porquanto: (i) finalmente se tem a definição de realização do evento; (ii) se tem presidente; (iii) a reunião teve uma pauta preestabe­lecida, respeitada pelo presidente Gérson Lauermann, sintetizada em: (1) Musicanto vai à escola; (2) Festival para classificação de duas canções na fase local; (3) Grupo Gestor; (4) Conselho Editorial; (5) Livro dos 40 anos do Musicanto; (6) Lançamento do Musicanto. A maior discussão se deu sobre a realização, ou não, da fase local destinada a classificar duas composições da Região.

 A fase local é uma proposta gestada nos primórdios do Musicanto, quando coordenado por Caio da Rosa (neto do escritor Fernando Albino da Rosa), mas perdeu fôlego. Foi ressuscitada na 22ª edição quando presidente o Dr. Heitor Henrique Cardoso (Tilica).

 A ideia nunca me seduziu. Sempre que foi discutida, tentei derrotá-la. É que, a meu sentir, a fase local é incompatível com o caráter (abrangência) sul-americano do Musicanto. Na prática seria uma reserva de mercado para compositores regionais, coisa que eles não precisam. Felizmente, sábado, depois de discutida a matéria, até o Tilica, em gesto de grandeza, votou pela não realização da fase local.

 O Musicanto é um projeto em permanente construção. Às vezes, em reconstrução.