Os amigos e os cafés
Publicado em 10/10/2022 09h56 - Atualizado há 2 semanas - de leitura
Por: Clairto Martin
Sou homem que tem bons amigos. E, por consequência disso, volta e meia rodeamos alguma mesa para cafés com prosa boa. Falamos de futebol, política, filmes e livros lidos. Há entre nós gremistas e colorados, e também os apaixonados pela esquerda e direita. A boa notícia é que, com algumas cicatrizes rasas, sobrevivemos a dois anos de pandemia e a oito anos de agitações sociais e ranços que se avolumaram desde a reeleição da Dilma.
Anoto isso porque percebo que, cada vez mais, as amizades e as visitas familiares são afetadas pelos posicionamentos políticos. Está mais difícil conviver com os opostos. Na verdade, está difícil conversar, principalmente porque todos estão municiados com dezenas de pseudoinformações, meias verdades e fake news que dão razão ao seu pensamento. De ambos os lados. Com argumentos de sobra, a opção saudável tornou-se evitar a visita, o que, no nosso caso, seria evitar a rodada do café. Isso não é bom. É sinal de que a sociedade está doente.
No domingo passado, lá em casa, estávamos em 15 adultos em um churrasco no campo. Eram sete votos no Bolsonaro, sete Lula e uma abstenção. Ninguém falou em assunto político, mesmo em dia de eleição. Não porque houvesse receio de derrota do seu candidato, mas porque a amizade e o afeto familiar devem prevalecer quando o pleito encerrar. No dia 30, os políticos estarão eleitos, bem assalariados e cheios de regalias... Enquanto isso, nós deixaremos de ir à casa dos parentes porque votaram no opositor?
Confesso, fiquei feliz com alguns resultados das urnas, fiquei triste com outros, da mesma forma que fiz ponderações sobre esse ou aquele resultado. É natural que seja assim. O que não é natural é o ódio, a cólera, a veia saltada no pescoço.
Sou gremista desde que me lembro por gente. Não troco essa camisa por qualquer outra, nem mesmo dos gigantes europeus. É meu lenço, bandeira e paixão. E, para meu desalento, minha filha Thaíssa é colorada roxa (cada um sofre como quer, kkkk). Por que escrevo isso? Porque volta e meia me “pego” torcendo “de leve” pro Inter, como naquela roubalheira que foi o jogo final do Brasileirão de 2020 contra o Corinthians. É uma questão de justiça, e não apenas de futebol.
É o meu jeito de olhar as coisas. Não sou burro a ponto de dizer que o Lula não fez nada de bom pelo Brasil. Nem sou imbecil para não perceber avanços no governo Bolsonaro. Não é 8 ou 80. É vida que segue, embora estejam nos forçando a pensar que é isso ou aquilo.
Eu não me atolo em paixões que levam ao ódio. O “amor” que cega e mata não é comigo. E, voltando ao futebol, por mim deveriam fechar todas as torcidas organizadas do Grêmio, e de outros times também. Há muito deixaram de amar o clube. Amor bandido não é amor, é raiva, e esta carece de tratamento psicológico. Vale o mesmo à política.
Os amigos e os cafés resistiram bravamente nos últimos anos, e sinceramente, espero que estejamos todos juntos no começo de novembro, vença quem vencer.